Naqueles dias andava um homem pelas ruas do Recife. Vestia farrapos do que um dia foi uma camisa roxa, bermuda jeans e um boné, que também um dia foi verde e outros era um roupão azul com divino bordado. Ele carregava nas mãos um longo cajado, um estandarte com uma rosa bordada e os restos mortais de uma bíblia que encontrara no meio do lixo em suas andanças em meio ao bairro da Bomba do Hemetério, sobrevivendo do que catava no lixo e dos centavos que lhe oferecia a caridade alheia, com os quais comprava seus goles de aguardente.
Caminhava pelas ruas, adentrava os metrôs, andarilhava pela praia, bradando sempre em alta voz em meio a ouvidos surdos tão leigos:
-Há de chegar o dia da glória da filha do sertão. Gêmea da mulher de Magdala, aquela que beijou os pés do Nosso Senhor. Ela será banhada no sangue do Cordeiro e surgirá revestida em glória, como a flor do mandacaru, que é doçura em meio a dor dos espinhos. Tocada por um anjo, mas pura como a Virgem Maria, seu nome um dia será esquecido na imensidão do tempo, mas seus feitos estarão nas lembranças dos homens, que espalharão sua história por mais três gerações além desta. Depois, estas lembranças vão secar como o pasto verde no tempo de estiagem, cuja ausência mata o gado e entristece os olhos do homem, ficando na sua cabeça a saudade do frescor do orvalho e do canto da asa branca. No fundo dos seus olhos de gato do mato brilha a chama da fogueira da dor, e este mesmo fogo santo queimará o seu coração, e das cinzas brotará uma pétala de sangue.
Ninguém o ouvia. Tudo no fim era o silêncio. E no silêncio, Damião ouvia a voz do universo.
Muito bom... Adoro Thiago escrevendo e os desenhos de Max são lindos, traços perfeitos...
ResponderExcluirEspero as próximas postagens!
kd o resto???? os seguidores fanaticos do blog estão anciosos pelas proximas postagens!!!
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